Analistas de Negócios poderão ser maioria no Fórum SPED Porto Alegre 2015
Por Mauro Negruni*
É fácil perceber a importância, cada dia maior, dos analistas de sistemas que especializaram-se em rotinas e processos das companhias. Chamamos comumente de analistas de negócios já que atuam na camada mais externa do ambiente da tecnologia da informação. Em algumas organizações também são chamados de consultores especialistas ou consultores internos.
Estes profissionais possuem conhecimento específico de rotinas das organizações a fim de suportar o uso de sistemas – próprios ou de terceiros – na operação das tarefas neles realizados. Assim, não é adequado que o analista tenha conhecimento insuficiente sobre o tema. Por exemplo, pensar que um analista de negócios para o sistema financeiro da companhia não domine os protocolos de troca de informações bancarias (CNAB – Centro Nacional de Informações Bancárias) ou um analista especialista em folha de pagamentos que não possui domínio da rotina de informe de rendimentos ou da DIRF (Declaração do Imposto Sobre a Renda Retido na Fonte), e assim por diante.
Os melhores profissionais de sistemas que tornam-se analistas de negócios normalmente são aqueles que têm maior interesse nos processos e rotinas do que na construção da aplicação. Dessa forma, atua mais próximo do usuário-cliente (interno ou externo) do que do banco de dados da organização, ainda que tenha habilidade e capacitação para atuar na área técnica (em muitos casos).
Estar próximo do chão de fábrica ou do balcão da loja é para analistas de negócio. Estar próximos dos servidores é para os aficionados por tecnologia pura.
Aqueles analistas de negócios que preferem estar par-e-passo com o mundo do seu cliente e atua na área fiscal ou contábil está, geralmente, acompanhando o que acontece no mundo do Sistema Público de Escrituração Digital (SPED). Normalmente tem a noção que o “seu” cronograma de projetos e que o atendimento de demandas é gerido pelos agentes externos como os Fiscos.
Raramente esses profissionais deixam para buscar informações e novidades quando o prazo de cumprimento aproxima-se, pois têm melhor noção sobre os esforços necessários para as adaptações e implantações necessárias. Algumas vezes defende seus clientes internos (ou externos), em reuniões de planejamento sobre demandas da área de Tecnologia da Informação, porque domina os impactos para toda a organização de não cumprimento de obrigações.
Ele traduz e quantifica o esforço para implantação de novas rotinas e atendimento de novas demandas com maior precisão que os usuários. Numa visão simplista, os usuários de sistemas computacionais podem acreditar que atender um requisito específico poderia ser apenas “incluir uma informaçãozinha” num livro digital ou num arquivo XML. O analista de negócios terá a visão mais detalhada sobre a disponibilidade da informação requisitada, as validações atuais (e futuras) que deverão estar no escopo da solução a ser implementada, dependências, etc.
Tão logo seja internalizada esta cultura do papel do analista de negócios, especificamente na área tributária, contábil e de pagamentos de colaboradores, percebe-se que a atualização destes profissionais é um desafio constante. Apenas ler artigos publicados nas redes sociais, jornais e revistas especializadas, ainda que melhore o espectro de conhecimento, não supre todas as lacunas.
A discussão com pares (outros analistas) envolvidos nos projetos fiscais de outras companhias é fundamental para perceber o que e como estão sendo tratados temas controversos e complexos. Um exemplo é o versionamento de cadastros de colaboradores para o eSocial. Esta interação, troca de impressões e visões permite “abrir o leque de opções” para atendimento de demandas.
Vários “ativos” – bens, na linguagem contábil – estão em jogo quando tratamos de projetos por meio dos quais uma empresa passa de “boazinha” para “vilã”. Acompanhe o meu exemplo: uma empresa que sistematicamente doa recursos que seriam destinados ao Imposto de Renda da Pessoa Jurídica para entidades filantrópicas é vista como socialmente responsável. Caso ela venha a ter problemas com envolvimento em operações que resultem em multas, tema que normalmente vira notícia com divulgação na mídia, a percepção de valor da empresa será modificada, tanto pelos colaboradores quanto pelo público externo.
Não apenas entre os profissionais da área de sistemas deve haver o consenso de que o resultado no caso do projeto SPED – a avaliação final – é de terceiros (governo) e não apenas do público interno. Vários desses profissionais já perceberam que deixar de estar atualizado com boas fontes de informações, especialmente aquelas diretas (os próprios entes estatais que impõem obrigações) é um risco a ser minimizado. Talvez por isso mesmo que haja tanta procura destes profissionais por vagas no Fórum SPED Porto Alegre nesta edição. Os analistas, eu acredito, perceberam que o atendimento dos requisitos do SPED pode ser uma forma de valorização profissional e que o investimento é uma forma de manter um ótimo patrimônio: seu nome.
Quando um profissional da área de sistemas domina assuntos como DIRF, ECF, Bloco K (e a contabilidade de custos), eSocial, EFD-Contribuições, etc, tem espaço para ser ouvido nas organizações, ao menos naquelas em que o atendimento ao SPED passou a ter lugar em destaque. Naquelas que ainda insistem em acreditar que apenas gerar arquivos formatados em leiaute específico é atendimento ao SPED, ainda mais importante é a recomendação para que busque ajuda especializada.
*Mauro Negruni é diretor de conhecimento e tecnologia da Decision IT e membro do grupo de empresas participantes dos projetos piloto do SPED
Fonte: Baguete