Como dificultar a vida dos fraudadores
DIÁRIO DO COMÉRCIO/SP
A falta de atenção e de desconfiança são características do comportamento humano que facilitam a vida dos fraudadores – que podem atacar por meio da internet, do telefone e pessoalmente. No meio virtual, as defesas estão aumentando, restando ao consumidor a tarefa de permanecer atento na hora de fornecer informações. “Se algum estranho abordar você na rua e pedir o seu cartão de crédito, você não dá. E por que faz isso quando entra em um site estranho?”, questionou Pedro Guasti, presidente do Conselho de Interação e Comércio Eletrônico da FecomercioSP e diretor da Ebit, durante o 5º Congresso Crimes Eletrônicos e Formas de Proteção, organizado pela entidade. Ele ainda disse que é difícil prever uma fraude mesmo pessoalmente, quando o consumidor entrega o cartão em restaurantes ou postos de gasolina.
Ainda assim, defendeu que o consumidor deve cuidar melhor de seus dados e separar um cartão de crédito, de limite menor, apenas para fazer compras pela internet. Na entrevista a seguir, Guasti dá dicas ao consumidor e comenta a segurança dos sites de comércio eletrônico. O diretor da Ebit fala sobre as medidas que as empresas de e-commerce estão tomando para melhorar seus sistemas de segurança, com a ajuda de prestadoras de serviços na área de pagamentos e de análise de risco de transações.
Diário do Comércio – Os crimes digitais refletiram no número de consumidores que compram pela internet?
Pedro Guasti – Não. Na Ebit, verificamos um número crescente de consumidores virtuais, principalmente por causa da entrada de pessoas da classe C que antes não compravam. A estimativa é que, neste ano, em torno de 50 milhões de consumidores façam compras pela internet. As pessoas estão aprendendo com o tempo a ter um hábito saudável de navegação. O consumidor tem de fazer a parte dele, porque a tentativa de crime sempre vai existir, na internet ou no mundo real.
DC – Que recomendações o senhor dá para o consumidor dificultar a ação de criminosos na internet?
PG – O consumidor não deve clicar em e-mails suspeitos, que informam que ele perdeu algum documento ou que oferecem uma oferta maravilhosa, com desconto de 50% em um produto nos próximos 15 segundos. O consumidor também não deve fornecer seus dados pessoais a qualquer empresa. Primeiro precisa se certificar de que é séria e, para isso, terá de pesquisar se o site tem o selo de certificação da Ebit, além de verificar a opinião de consumidores da mesma loja virtual nos sites de reclamações e redes sociais. O risco que existe na internet é o mesmo que existe no posto de gasolina ou no restaurante, quando o consumidor entrega seu cartão de crédito.
DC – Como os sites de comércio eletrônico estão aperfeiçoando a segurança?
PG – O mercado desenvolveu ferramentas para minimizar os problemas com fraudes. Exemplos são os meios de pagamento digital seguro, oferecidos por empresas como BCash, PayPal, PagSeguro e Moip. São empresas que fazem o intermédio entre o site e o consumidor e o dinheiro não é transferido imediatamente para a loja. Isso reduziu a percepção e a quantidade de erros e problemas.
DC – As empresas que fazem a intermediação de pagamentos estão ajudando o setor a se tornar mais seguro?
PG – Sim, porque elas criaram ferramentas que protegem os dois lados da operação. Quando a loja contrata o intermediador de pagamento, oferece ao consumidor possibilidade de fazer o pagamento para a empresa de serviços. Nesse caso, ambos têm cobertura. O lojista, porque tem certeza que vendeu para um consumidor e que vai receber o dinheiro e o consumidor, que se não receber o produto terá o dinheiro de volta.
DC – Nesse sentido, as empresas de e-commerce estão cada vez mais encarando a segurança como um investimento, tal como o setor bancário tradicionalmente faz?
PG – Sim, no mercado de e-commerce foram criadas empresas nacionais que fazem análise de risco para a prevenção à fraude. Hoje praticamente todas os sites de comércio contratam algum tipo de solução, porque fazer isso internamente é mais dispendioso. Exemplos de empresas que oferecem esse serviço são a FControl (da Buscapé Company) e a Clearsale. Elas oferecem um serviço de inteligência neural, ou seja, que é retroalimentada com processos de fraude, impedindo que outro consumidor venha a cair no mesmo tipo de golpe.
DC – O lojista também precisa se proteger do consumidor mal-intencionado?
PG – Sim, principalmente o que vende bens de consumo de valor elevado, como eletrodomésticos, eletrônicos e itens de informática. Existem consumidores mal-intencionados, que roubam a identidade de pessoas, usando seus dados e cartão para fazer compras. Se o lojista não toma cuidado, pode entregar um produto e depois de dois meses ter de estornar o valor, sistuação conhecida como chargeback. Se ele for pequeno ou microempresário que vende computadores, por exemplo, pode quebrar. Para isso, recomendamos a contratação de uma empresa de análise de risco.
DC – Quanto o e-commerce investe em segurança?
PG – Não tenho essa informação, mas cada loja virtual paga um valor por transação analisada, que pode custar poucos centavos, dependendo da escala. O serviço classifica as transações de compra nas cores verde, amarelo e vermelho. De acordo com a transação, o lojista toma uma atitude. Se for verde, vende; se for amarelo, verifica; e se for vermelho, decide se nega a venda ou se pede mais documentos ao consumidor.
“Meio físico é mais inseguro que o digital”
‘O meio físico é mais inseguro do que o digital. Quando entregamos um documento sigiloso a um portador – não importa quem ele seja –, não estamos vendo para onde ele está indo. E eu pergunto: é mais fácil para o fraudador ter acesso a um envelope com um documento ou invadir um datacenter? A segunda alternativa certamente é a mais difícil”, explica Marcos Nader, CEO da Comprova, empresa de formalização digital que está há dez anos no mercado. A empresa é especializada em certificação e comprovação jurídica de entrega de emails e também no gerenciamento de contratos digitais.
Na opinião de Nader, o Brasil tem uma legislação avançada e que não oferece nenhuma barreira jurídica aos contratos digitais. “É o País que tem a maior adoção. Hoje, atendemos 40 bancos e seguradoras que usam frequentemente o serviço, além de quase mil empresas fora do segmento financeiro. Pela plataforma digital, passam contratos de empréstimo, câmbio, apólices de seguro, contratos de compra e venda e duplicatas digitais”, explica. Além disso, a Comprova também organiza assembleias de acionistas de companhias abertas no meio digital, prática autorizada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Nader diz que o meio digital é mais seguro porque – se forem tomadas as medidas de segurança necessárias – permite rastrear o fraudador, o que nem sempre é fácil quando as provas são físicas.
Nos últimos dois anos, a empresa experimentou um crescimento mais intenso, em boa parte atribuído ao fim de barreiras culturais com o universo digital. O processo foi ajudado pela popularização de e-mail e das redes sociais e também pelo fato de boa parte dos executivos acompanharem esses movimentos. A mudança também é sentida no segmento de pequenas e médias empresas, que estão mais acostumadas com os meios digitais por terem de emitir obrigatoriamente notas fiscais eletrônicas. “O nosso trabalho é dar o mesmo valor jurídico a documentos que uma nota fiscal eletrônica tem”, afirma Nader.
Fonte: http://www.dcomercio.com.br/
Via: http://www.robertodiasduarte.com.br/index.php/como-dificultar-a-vida-dos-fraudadores/