O leão ganhou
Brasil e Alemanha tentam resolver há nove anos o impasse sobre bitributação. O acordo deveria ter saído neste ano, mas não deve ocorrer tão cedo.
Até maio passado, foram realizados 1.000 eventos em 90 cidades brasileiras e 25 alemãs. O saldo foi positivo, mas um arranhão está presente na relação entre os dois países – e não tem nada a ver com o futebol e aquele resultado na Copa que não precisamos relembrar. Em meio às comemorações, estava sendo aguardada, com grande expectativa pelos empresários brasileiros e germânicos, a assinatura de um acordo que acabaria com a bitributação, um problema que tem atrapalhado os dois países, desde 2006. Naquele ano, o governo alemão pediu a rescisão do acordo, que era válido desde os anos 1970. Os alemães estavam descontentes com a alíquota de transferência de ganhos de filiais de empresas alemãs.
O objetivo era reduzir a participação que ficava retida na fonte no Brasil para abocanhar uma parcela maior dessa troca comercial. Para a Alemanha, o governo brasileiro estava sendo favorecido. O Brasil, porém, não apenas não concordou como se recusou a mexer na tributação, alegando justamente que significaria uma perda de receita. “O Brasil poderia aumentar 10% suas exportações com o fim da bitributação”, diz Ulrich Grillo, presidente da Confederação da Indústria Alemã. De 2006 até o ano passado, o intercâmbio comercial bilateral aumentou, assim como o déficit brasileiro. “Um novo acordo melhoraria os negócios para os dois lados”, afirma Paulo Tigre, vice-presidente da CNI.
Sem o acordo, não se sabe mais de quem é a competência tributária e quem deve cobrar o quê – e muitas vezes ela é feita na Alemanha e também no Brasil, que atualmente tem 30 acordos com países como Israel e Filipinas. Os ministros da Fazenda Guido Mantega e Wolfgang Schäuble iniciaram conversas em 2012 e se comprometeram a pôr fim ao duplo imposto até 2014. A comemoração do Ano da Alemanha no Brasil seria um símbolo desses novos tempos. Não foi o que aconteceu. “O custo das dificuldades tributárias fica acima do que deveria ser”, disse Mauro Borges, ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio durante o 32º encontro econômico Brasil e Alemanha, que aconteceu na semana passada em Hamburgo.
Os alemães fizeram um mea-culpa. As crises na Rússia e na Ucrânia foram as responsáveis pelo pedido de adiamento de uma reunião proposta pelo lado brasileiro que deveria ter acontecido no final do primeiro semestre. Ao tentarem retomar o encontro no período pós-Copa do Mundo, foi o governo brasileiro que acusou a falta de datas e culpou o período pré-eleitoral para não marcar um novo encontro. “Falta sensibilidade à parte política para que esse acordo de bitributação deixe de ser só uma promessa”, afirma Ingo Plöger, acionista da Melhoramentos. Não se sabe se esse encontro poria fim ao impasse. Por enquanto, é a pata do leão que continua vencedora.
Fonte: IstoÉ Dinheiro